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No Brasil S/A tudo está à venda, até mesmo os trabalhadores...
Publie le Miércoles 3 de noviembre de 2010 par Open-PublishingAnálise rápida do governo Lula e um pequena história do Partido dos Trabalhadores
Quando o governo Lula assumiu a presidência, o Brasil passava por uma crise grave, que vinha desde algum tempo, mas que foi intensificada pelas medidas de privatização da economia que se deram a partir (e que foi a causa da instauração e da queda da ditadura) da queda da ditadura civil-militar. Essa crise social pode ser caracterizada pela miséria, desemprego, abandono dos serviços públicos, aumento da violência e aumento do preço dos alimentos e dos produtos mais básicos à população, coisas que a muito tempo assolam a população brasileira. A vitória de Lula representou uma esperança de mudar essas coisas, mas a decisão de continuar a política econômica do governo FHC, a defesa do modelo chamado de "Consenso de Washington", fez a situação piorar ainda mais, apesar das altas taxas de crescimento econômico, ou talvez por essa causa mesmo.
Nos primeiros meses do governo Lula mais de 580 mil trabalhadores perderam o emprego, somente nas seis maiores regiões do país. E ao longo do seu governo isso foi uma constante, apesar da propaganda contrária. A renda dos trabalhadores caiu permanentemente, e enquanto isso, os lucros dos bancos continuou intocável e o governo, agora representado por Dilma Roussef, continua e continuará defendendo um modelo econômico cujo objetivo é atacar os direitos dos trabalhadores e fornecer aos banqueiros os negócios mais rentáveis do mundo. Por sua vez, cresce a dependência internacional do país com o respaldo do FMI. [1]
No governo, o PT mostrou que não era mesmo um partido com socialista, adotando um programa para promover o agronegócio (que recebe 90% de créditos agrícolas), servindo ao capital financeiro (com mais de 90 milhões de dólares), desembolsando pagamentos de dívida durante 30 meses (gastando mais em pagamento de dívida num mês do que em educação, saúde e reforma agrária num ano), e privatizando a exploração do petróleo. “O que manteve o PT inteiro e de pé foi o ‘patrocínio de gabinetes’; a corrupção, a cooptação, o enriquecimento e o clientelismo. O poder político e os valores do neoliberalismo, ‘o enriquecimento individual’, converteram–se nas motivações determinantes para buscar posições influentes.” [2]
Mas de acordo com a análise feita pelo Movimento dos Comitês Revolucionários, [3] é um erro acreditar que o PT tenha sido um partido de esquerda com poder ou influência no seio das massas e dos trabalhadores num sentido mais amplo. O PT, desde as suas origens, caracterizou-se como um partido de “retórica” popular, ligado aos trabalhadores do ABC paulista, grupo que na década de 1980 já possuía um nível de organização razoável e salários muito acima da média dos trabalhadores brasileiros. Além disso, o PT teve crescimento significativo dentro de uma fração que podemos sem a intenção de atacar, chamar da aristocracia do serviço público que era e é composta por funcionários do Banco do Brasil, Petrobrás, Universidades Públicas e grandes estatais.
Nesse sentido, o PT impôs-se como real representante das aspirações e protestos dessas frações mais organizadas e economicamente melhor situados dentro do quadro sócio-econômico da massa de trabalhadores desse país.
No campo, a participação do PT como suposto partido de esquerda, apesar de contar com o apoio do MST, sempre foi pouca e seria nenhuma não fosse o trabalho das comunidades eclesiais de base entre outros grupos ligados a Igreja Católica e grupos mais progressistas ligados à teoria da libertação de tendências marxistas, embora limitados a um viés humanista-cristão que pouco peso jogaria na luta de classes.
Nesse contexto, desde sua gênese, o PT nunca se colocou como um partido socialista revolucionário, ou disposto a organizar os proletariados, os camponeses, setores da pequena burguesia e intelectuais na formação de uma grande frente revolucionária.
No cenário pós-ditadura, onde surge o PT a situação era a de um deserto de idéias, porque os movimentos camponeses, os sindicatos e seus trabalhadores os estudantes e os setores mais avançados na consciência da luta de classes forjadas na prática dessa luta e embalados pela perspectiva de uma sociedade socialista, tinham sido literalmente torturadas, esmagados, aniquilados da maneira mais brutal e covarde por um bando de militares controlados pelos interesses do capital internacional, seus investidores e seus sócios minoritários da burguesia nacional.
No cenário internacional, o capitalismo, entre suas várias crises e a social-democracia européia, com seu “estado do bem estar social” não davam conta de manter as altas taxas de lucros reclamados pelos capitalistas e pela própria dinâmica do modo de produção capitalista.
Além disso, o reformismo dentro dos partidos comunistas da Europa e até mesmo no cerne do bloco socialista do leste Europeu já havia avançado, fazendo com que fossem abandonados princípios básicos do socialismo, e que os mesmos retornassem a via do capitalismo, sem que o povo esboçasse um gesto mínimo em defesa do que havia, porque na verdade o que havia não merecia sacrifícios.
O partido dos trabalhadores era por aqui a opção conseqüente possível e permitida e entre o nada e o que havia aglutinaram-se setores dos movimentos populares organizados, intelectuais e até alguns artistas que se consideravam de esquerda. Desde a sua origem o PT nunca realizou nenhum trabalho organizado e político no seio das massas com o objetivo de construir um amplo projeto de socialismo. O PT nunca teve essa ligação orgânica com as a massas. Na verdade o partido dos trabalhadores limitou sua atuação, basicamente, a setores mais organizados dos trabalhadores via sindicatos e a frações do funcionalismo público. [3]
Hoje sabemos que o PT e principalmente o Lula cumpre um papel fundamental para os interesses dos investidores do mercado mundial. Sabemos que o governo Lula priorizou as multinacionais, o agronegócio, a manutenção do modelo econômico do PSDB, a flexibilização do trabalho nos moldes neoliberais, o socorro financeiro aos bancos e a construção da infra-estrutura necessária para o capital - energia, transportes, portos, ferrovias, et. cétera.
O maior perdedor na decadência do governo Lula foi o MST, que continuou apoiando o governo apesar das cifras de ativistas camponeses assassinados, de que dezenas de milhares de ocupações de terras foram forçosamente evitadas e de que Lula descumpriu continuamente cada promessa de reforma agrária. As políticas pró-Lula do MST não só debilitaram gravemente as lutas dos camponeses sem-terra como dividiram a oposição de esquerda, fortalecendo assim a “velha direita”, o PSDB e o DEM (…).” [2]
O governo Lula é internacionalmente reconhecido como a forma eficiente de “administrar” o capitalismo, conciliando as classes sociais e amenizando suas contradições -pelo menos por um tempo - por isso ele ganhou o prêmio de Estadista Global do Fórum Econômico Mundial em 2009.
Essa pequena história do Partido dos Trabalhadores ilustra o papel histórico da social-democracia como os salvadores do capitalismo nas crises. “É-lhes permitido, pelas elites estrangeiras e interna, chegarem ao poder porque têm apoio popular para implementar as duras políticas reacionárias que os desacreditados direitistas estabelecidos são demasiado fracos para impor. Ao abraçar e forçar as suas políticas impopulares e retrógradas, os sociais-democratas alienam profundamente os seus apoiantes da classe trabalhadora e da classe média baixa – cometem suicídio político. Mas para os sociais-democratas, eles cumprem a sua finalidade: repelem a maré de mudança radical ou revolucionária. Eles sacrificam os seus regimes, mas salvam o estado capitalista”. [4]
Referências:
[1] Brasil: Manifiesto ’Somos todos radicales’ por Red de divulgación e intercambios sobre autonomía y poder popular - x Clajadep.
[2] “Não chore por Lula”, A política de um decadente ’governo dos trabalhadores’ por James Petras.
[3] A crise do PT (Partido dos Trabalhadores) por Movimento dos Comitês Revolucionários.
[4] Grécia: A praga de três gerações de Papandreus por James Petras